TIPOLOGIA DOS TEXTOS

O tema que trago hoje para vocês me é caro, pois foi o tema da minha “prova de aula”, etapa do concurso público que me trouxe à condição, que  muito me faz feliz,  de professora do Instituto Federal Fluminense. Trata-se de um conteúdo conhecido como “tipologia textual”.

 

Antes de qualquer outra coisa, é importante que você não confunda os tipos (ou as tipologias) textuais com o gêneros textuais. Os tipos (ou as tipologias) dizem respeito aos modos de organização dos textos, ao passo que os gêneros são definidos conforme a função social cumprida pelo texto. Assim, os gêneros textuais (por exemplo: carta, notícia, bula, receita, ata, editorial…) serão incontáveis, uma vez que estarão relacionados às necessidades sociais de interação pela linguagem. Os tipos textuais, por sua vez, são definidos a partir de características relativamente fixas, das quais os gêneros se valerão na sua “arquitetura” textual. Vale ressaltar, ainda, que dificilmente um texto se realizará com um dos tipos textuais exclusivamente, havendo, dentro dos textos, cruzamento de sequências com características tipológicas distintas. Portanto é mais coerente fundamentarmos a análise no estudo de sequências narrativas, sequências descritivas, sequências dissertativas e sequências injuntivas.

 

 

TIPOLOGIAS TEXTUAIS:

 

NARRAÇÃO

 

(Contam-se fatos)   

 

  • caracteriza-se pela sequência de ações que se sucedem no tempo e no espaço, envolvendo personagens;
  • apresenta relação de anterioridade ou posteridade;
  • tem caráter dinâmico;
  • há predomínio de frases verbais, indicando processo ou ação, verbos nos tempos do passado, especialmente no pretérito perfeito. Percebe-se também uso significativo de advérbios de tempo e lugar.

 

 São exemplos de gêneros em que prevalece a sequência narrativa: relato, crônica, romance, fábula, conto de fada, piada, notícia.

 

DESCRIÇÃO

 

(Criam-se imagens)

 

  • caracteriza-se pela construção de “imagens” que representam cenas, seres, objetos;
  • não apresenta relação de anterioridade ou posteridade, as ocorrências são simultâneas;
  • tem caráter estático;
  • ainda que apareçam ações, elas são predominantemente apresentadas no presente ou no pretérito imperfeito do indicativo, não indicando alterações que evidenciem uma transformação (situação inicial e um situação final). Gramaticalmente, percebe-se, ainda, o predomínio das frases nominais, de orações centradas em predicados nominais; adjetivação frequente; períodos curtos e prevalência da coordenação. Embora tenha na adjetivação um traço marcante, não se deve imaginar que a adjetivação, por si só, seja suficiente para fazer de qualquer texto uma descrição.

 

São exemplos de gêneros em que predomina a sequência descritiva: folhetos turísticos, anúncio classificado, lista de compras, cardápio, um autorretrato.

 

DISSERTAÇÃO (expositiva ou argumentativa):

 

(Discutem-se ideias)

 

  • caracteriza-se pela análise e interpretação da realidade por meio de conceitos abstratos;
  • não apresenta progressão temporal entre os enunciados;
  • apresenta relações de natureza lógica (causa/efeito; fato/condição; premissa/conclusão);
  • tem caráter temático, portanto, ainda que apresente transformações de estado, faz isso de modo diferente do texto narrativo, que é figurativo. Enquanto a finalidade da narração é o relato das transformações, o objetivo primeiro da dissertação é a análise e a interpretação das informações relatadas;
  • em função do seu aspecto temático, com foco no referente, apresenta predomínio do uso da 3ª pessoa do discurso;
  • traz uma referência ao mundo real que se faz através de conceitos amplos, modelos genéricos; as referências mais específicas ao mundo concreto ocorrem como recurso da argumentação (ou dissertação argumentativa);
  • apresenta caráter argumentativo (argumentação) quando à análise dos fatos se acrescenta um ponto de vista do autor (tese), cuja defesa é feita por meio de argumentos. A argumentação apresenta dois aspectos: o primeiro, ligado à razão, supõe ordenar ideias, justificá-las e relacioná-las; o segundo, referente à emoção, busca capturar o interlocutor por meio de recursos que envolvem a paixão, a sedução, a persuasão.

 

Constituem exemplos de dissertação expositiva: textos de divulgação científica, revistas especializadas, livros didáticos, verbetes de dicionários e enciclopédias.

 

Constituem exemplos de dissertação argumentativa: sermão, ensaio, editorial, carta argumentativa, redações dissertativas.

 

INJUNÇÃO

 

(Apresentam-se comandos, ordens, pedidos)

 

  • tem como marca fundamental o verbo no imperativo (injuntivo é sinônimo de obrigatório, imperativo)

 

São exemplos de sequência injuntiva ou instrucional: receita culinária, manual de instrução.

 

Fique com um vídeo sobre a matéria.


 

Conforme combinado, segue o texto completo:

 

A língua do Brasil amanhã

 

                Ouvimos com frequência opiniões alarmantes a respeito do futuro da nossa língua. Às vezes se diz que ela vai simplesmente desaparecer, em benefício de outras línguas supostamente expansionistas (em especial o inglês, atual candidato número um a língua universal); ou que vai se misturar com o espanhol, formando o “portunhol”; ou, simplesmente, que vai se corromper pelo uso da gíria e das formas populares de expressão (do tipo: o casaco que cê ia sair com ele tá rasgado). Aqui pretendo trazer uma opinião mais otimista: a nossa língua, estou convencido, não está em perigo de desaparecimento, muito menos de mistura. Por outro lado (e não é possível agradar a todos), acredito que nossa língua está mudando, e certamente não será a mesma.

 

         O que é que poderia ameaçar a integridade ou a existência da nossa língua? Um dos fatores, frequentemente citado, é a influência do inglês – o mundo de empréstimos que andamos fazendo para nos expressarmos sobre certos assuntos.

 

Não se pode negar que o fenômeno existe; o que mais se faz hoje em dia é surfar, deletar ou tratar do marketing. Mas isso não significa o desaparecimento da língua portuguesa. Empréstimos são um fato da vida, e sempre existiram. Hoje pouca gente sabe disso, mas avalanche, alfaiate, tenor e pingue-pongue são palavras de origem estrangeira; hoje já se naturalizaram, e certamente ninguém vê ameaça nelas.

 

                Quero dizer que não há o menor sintoma de que os empréstimos estrangeiros estejam causando lesões na língua portuguesa; a maioria, aliás, desaparece em pouco tempo, e os que ficam se assimilam. O português, como toda língua, precisa crescer para dar conta das novidades sociais, tecnológicas e culturais; para isso, pode aceitar empréstimos – ravióli, ioga, chucrute, balé – e também pode (e com maior frequência) criar palavras a partir de seus próprios recursos – como computador, ecologia, poluição – ou estender o uso de palavras antigas a novos significados – executivo ou celular, que significam hoje coisas que não significavam há vinte anos.

 

                Mas isso não quer dizer que a língua esteja em perigo. Está só mudando, como sempre mudou, se não ainda estaríamos falando latim. Achar que a mudança da língua é um perigo é como achar que o bebê está “em perigo” de crescer.

 

                Não estamos em perigo de ver nossa língua submergida pela maré de empréstimos ingleses. A língua está aí, inteira: a estrutura gramatical não mudou, a pronúncia é ainda inteiramente nossa, e o vocabulário é mais de 99% de fabricação nacional.

 

                Uma atitude mais construtiva é, pois, reconhecer os fatos, aceitar nossa língua como ela é, e desfrutar dela em toda a sua riqueza, flexibilidade, expressividade e malícia.

 

 

(Mário A. Perini. A língua do Brasil amanhã e outros mistérios. São Paulo: Parábola Editorial, 2004, pp. 11-24. Adaptado).

 

Um abraço!
Professora Doutora Patrícia Corado

 

Tags
ads, DESCRIÇÃO, DISSERTAÇÃO ARGUMENTATIVA, DISSERTAÇÃO EXPOSITIVA, INJUNÇÃO, Língua Minha, NARRAÇÃO, TIPOLOGIA TEXTUAL
16 Comentários
  • Washington Genesio de Seixas Valença
    Postado 12:55h, 24 março Responder

    Fiz um curso de Redação que dizia não ser mais: introdução-desenvolvimento e conclusão …que agora tinha Tesé…Tema etc
    A Sra pode esclarecer isso ?
    Washington

  • Patrícia Corado
    Postado 11:56h, 26 março Responder

    Oi, Washington! A divisão do texto em “abordagem temática”, “explicitação da tese”, “exposição de argumentos”… diz respeito à estrutura argumentativa. A divisão em “introdução”, “desenvolvimento” e “conclusão” é algo mais genérico.
    Um abraço,
    Patrícia

  • Maurina Alves de Sousa Vargas
    Postado 20:48h, 01 maio Responder

    Adorei conteúdos riquíssimos

  • Iely Castelo
    Postado 15:51h, 02 junho Responder

    Melhor professora!!!

  • Rogerio Carneiro Campello
    Postado 21:58h, 14 junho Responder

    Professora, quando você falou em gêneros textuais, citou carta, notícia, bula, receita, ata, editorial… Fiquei meio atrapalhado. Quando se fala em gênero eu penso em conto, romance, poesia, epopeia… São gêneros literários. Há diferença entre gênero literário e gênero textual? Ou eu posso dizer, por exemplo, de um poema narrativo, que é do tipo textual narrativo e do gênero textual poema?

    • Rogerio Carneiro Campello
      Postado 23:43h, 14 junho Responder

      Professora, não precisa mais responder. Já deu para ver aqui o que é. É relativamente simples. Desculpe.

  • Jéssica Cristina da Silva Oliveira
    Postado 22:23h, 10 julho Responder

    Ela arrasa demais.

  • Vitoria Schappo
    Postado 14:42h, 15 março Responder

    Adorei a explicação, bem completo e claro!!

  • Vitória Santos
    Postado 14:14h, 05 abril Responder

    Narração caracteriza_se pela sequência de ações que se sucedem no tempo envolvendo personagens apresentada em relação de anteriores ou posteridade tem caráter dinâmico ha predomínio de frases verbais indicando, processos ou ações verbos nos tempos passados, especialmente no pretérito perfeito perube_se também uso significativo de abverbio de tempo e lugar

  • MARIA Gabriela Nascimento Lima
    Postado 10:00h, 08 abril Responder

    Muito bom

  • Leonardo de Souza Santos
    Postado 10:45h, 08 abril Responder

    Muito legal mesmo para ajudar agente muito top quando a professora fala se alguém queria ajudar……

Postar um comentário