(CAUSATIVO OU SENSITIVO) + (INFINITIVO)

Merecem uma atenção especial daqueles que estudam a Língua Portuguesa e por ela se interessam as construções em que o infinitivo vem precedido (não precisa vir imediatamente antes, tá?) de verbos sensitivos (ou sejam verbos que exprimem percepção física, como sentir, ver, ouvir, perceber) ou de verbos causativos (aqueles que exprimem autorização ou ordenação, como mandar, deixar, fazer, permitir). É o caso, por exemplo, de “Mandei-os sair daqui”.

 

Note que a construção acima traz uma oração reduzida, a qual teria a seguinte forma desenvolvida: Mandei que eles saíssem daqui.

 

Uma análise simples do período com a oração desenvolvida nos mostra que:

 

Mandei = oração principal;

 

que eles saíssem daqui = oração subordinada substantiva objetiva direta.

 

Assim, voltando à oração reduzida, termos em “Mandei-os sair daqui” a seguinte análise:

 

Mandei = oração principal;

 

os sair daqui = oração subordinada substantiva objetiva direta reduzida de infinitivo.

 

Observe que, nesse caso, o sujeito da oração reduzida é o pronome oblíquo OS, correspondente ao ELES da oração desenvolvida.

 

ESSE É O ÚNICO CASO EM QUE UM PRONOME OBLÍQUO FUNCIONA COMO SUJEITO!!!!

 

Você certamente encontrará quem defenda a ideia de que, em uma construção como “Mandei-os sair”, o pronome “os” seria objeto direto do “mandei”. De minha parte, eu respeito, mas, seguindo as lições do professor Evanildo Bechara, prefiro entender que o objeto direto do “mandei” é toda a oração reduzida (“os sair”). Ok?

 

Extraem-se desse raciocínio analítico as seguintes observações:

 

1) O verbo no infinitivo constitui oração à parte, não compondo locução verbal com o causativo ou sensitivo que o precede.

 

2) A oração do infinitivo será sempre substantiva e quase sempre objetiva direta.

 

3) Quando o sujeito do infinitivo for um pronome pessoal, recomenda-se, normativamente, a forma oblíqua. Ou seja, ainda que formas como “Mandei ele sair” sejam muito comuns entre os usuários da língua, não correspondem ao padrão normativo, segundo o qual se deve usar “Mandei-o sair”.

 

4) Outras formas oblíquas átonas, como me, te, se, nos, vos, também poderão funcionar como sujeitos desses infinitivos (Ex.: “Deixa-me dizer uma coisa”, em que o “me” é sujeito do “dizer”)

 

5) Nesses casos, o infinitivo, tradicionalmente, não deve ser flexionado, mesmo que o seu sujeito seja uma forma no plural (“Mandei-os SAIR”, e não “Mandei-os saírem!”). Sobre a flexão do infinitivo, veja “A FLEXÃO DO INFINITIVO“.

 

6) Se o infinitivo vier acompanhado de objeto direto, o sujeito do infinitivo poderá ser representado pelos pronomes oblíquos lhe e lhes também poderão figurar como sujeitos do infinitivo. Ex.: “Deixei-os comer o doce.” OU “Deixei-LHES comer o doce.” Observe que o LHES não funciona como objeto direto, uma vez que o objeto direto do deixei é toda a oração reduzida (“lhes comer o doce”) e o objeto direto do comer é “o doce”. Nesse caso o LHES é tão somente sujeito do infinitivo (comer)!

 

 

Temos vídeo??? Temos sim!!!! Veja:

 


Por hoje, é só!

 

Um beijo,

Prof.ª Dr.ª Patrícia Corado

Tags
causativo, Infinitivo, pronome oblíquo, sensitivo, SUJEITO, verbo
12 Comentários
  • Wandercy Gomes
    Postado 14:18h, 22 junho Responder

    Ótima explicação, como sempre. Parabéns, nobre e douta professora!

    • Língua Minha
      Postado 15:13h, 28 junho Responder

      Obrigada pelo comentário, Wandercy! Fique sempre conosco!
      Um abraço!

      • Ewerton Mesquita
        Postado 07:33h, 19 julho Responder

        Ótima explicação!!! És uma referência na área.
        Parabéns!!!

  • ABUDO SATIQUE
    Postado 21:54h, 05 julho Responder

    Prof.Dr.Patricia corado!espero ouvir que estás de boa saude EU também estou bem.
    Queria te informar que suas aulas chegam ate em Moçambique sobre tudo em Angoche. Porém,gostaria que me desse uma maneira de tominar as desinencias dos verbos no conjuntivo em todos os tempos verbais.por favor é muito isso para mim.

    • Língua Minha
      Postado 17:39h, 20 julho Responder

      Oi, Abudo Satique!!! Sua mensagem me deixa muito feliz! O conjuntivo (que nós, por aqui, chamamos de “subjuntivo”) não tem desinências tão complexas. Sugiro que você veja, primeiramente, modelos de conjugação de verbos regulares. Há, na internet, muitos sites com conjugações verbais. O site https://www.conjugacao.com.br/ é bem completo em relação a esse tema. Obrigada pela sua mensagem!!!

  • Juarez Rodrigues Belém Júnior
    Postado 08:40h, 23 novembro Responder

    Esplêndido! (23.11.2020)

  • Leonardo Lemes dos Reis
    Postado 17:47h, 09 julho Responder

    Entendi perfeitamente, porém, o que não entendo é por que cargas d’água não se pode usar o pronome reto como sujeito nesses casos, isto é, qual o problema em usá-los?

    • Língua Minha
      Postado 13:23h, 14 julho Responder

      Problema não há, Leonardo. Inclusive é uma tendência do Língua Portuguesa contemporânea. A recomendação pela forma oblíqua é uma questão de tradição normativa mesmo. Minha intenção aqui é sempre ajudar e esclarecer os preceitos da norma culta.

      • Leonardo Lemes dos Reis
        Postado 12:09h, 18 julho Responder

        Entendido, professora. Muito obrigado!

  • Fernando Cavalcanti
    Postado 12:39h, 27 junho Responder

    Pode esclarecer uma dúvida? Na frase “Conclamando-os a abandonar os vícios”, é correto o uso do infinitivo impessoal? Por quê?

  • Gleide Barros
    Postado 09:45h, 07 agosto Responder

    Explicação esclarecedora, didática e simples. Obrigada, professora, pelas orientações.

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