Nestes tempos tão difíceis impostos pela pandemia de COVID-19, os termos “entubar”, “intubar”, “entubação”, “intubação”, infelizmente, passaram a fazer parte do nosso vocabulário mais cotidiano. Mas, professora, afinal, qual é o certo: entubar ou intubar?
Em primeiro lugar, é importante observar que temos aí um caso de derivação parassintética (PROCESSOS DE FORMAÇÃO DE PALAVRAS) a partir do substantivo “tubo”. O elemento “in-“ – é necessário destacar – não faz parte do quadro canônico de prefixos usados em processos de parassíntese. Já o prefixo “en-“ (ou “em-“) é largamente usado na tradição do idioma para a formação de verbos parassintéticos de primeira conjugação (exemplos: embainhar, encaixar, entortar, envergonhar, engarrafar, engavetar).
A partir daí, entende-se, já de início, o porquê de o dicionário Houaiss indicar preferência ao uso de “entubar” em lugar de “intubar”. Não é uma preferência aleatória! Trata-se de um processo paradigmático do idioma!
Cumpre-nos registrar também que o VOLP (Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa) não faz sequer o registro de termos como “intubar” e “intubação”, reconhecendo apenas “entubar” e “entubação”.
Ocorre que, na seara médica – área em que o termo é mais usado -, consagrou-se o uso de “intubar” (e, consequentemente, de “intubação”) para designar “o ato de introduzir tubo em canal ou cavidade do organismo”. Observe-se que esse é um dos sentidos de “entubar”, que pode significar também “dar forma de tubo”, “entrar e surfar dentro de tubo formado por onda”, entre outros (HOUAISS, 2001, 1196).
Assim, nossa resposta a essa pergunta é que “entubar” (e, consequentemente, “entubação”) é o item lexical do idioma que indica, entre outros sentidos, o ato médico de introduzir tubo um canal ou uma cavidade do paciente. Na área médica, no entanto, usa-se o neologismo[1] “intubar” (e seu derivado “intubação”), trazido ao idioma, possivelmente, por influência de outras línguas neolatinas, para essa acepção específica.
Ficamos por aqui com o desejo de que palavras desse campo semântico sejam menos presentes no nosso dia a dia.
Um afetuoso abraço!
Prof.ª Dr.ª Patrícia Corado
[1] Trato “intubar” e “intubação” como neologismos, a despeito de seu registro (como forma não preferencial) no dicionário de referência (Houaiss), em razão de os termos não serem registrados no Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa (VOLP).
Rogerio+Carneiro+Campello
Postado 18:34h, 02 abrilObrigado, professora. Eu também vinha achando estranho esse intubar. Mas já que é admissível pela influência de outras línguas latinas, tudo bem.
Rogerio+Carneiro+Campello
Postado 18:45h, 02 abrilDesde que os médicos cuidem bem da medicina, para nós está muito bom. Até porque em matéria de língua não são lá grande coisa. Conheci um – aliás, querido médico da família – que falava “panegirico”. Assim mesmo, paroxítona. Era a pane do jerico.
Célia Aparecida da Silva
Postado 20:04h, 05 maioMelhor explicação que já ouvi até agora!
Obrigada, professora!