Adjunto Adnominal X Complemento Nominal

É comum as pessoas fazerem confusão ao tentar classificar essas estruturas sintáticas. Uma dica é sempre notar que o adjunto adnominal só trabalha para o substantivo (concreto ou abstrato), enquanto o complemento nominal pode trabalhar para o substantivo abstrato, para o adjetivo e para o advérbio.

 

Assim, só haverá possibilidade da dúvida se o elemento ao qual a expressão se refere for um substantivo abstrato, certo?

 

Outro ponto a observar é o fato de que o adjunto adnominal pode ser função desempenhada por artigo, adjetivo (ou palavra de valor adjetivo) ou por locuções adjetivas (preposição + substantivo). O complemento nominal, por sua vez, é uma função substantiva, desempenhada por um substantivo que virá sempre precedido de uma preposição exigida pelo nome regente. Assim, a interseção entre o complemento e o adjunto só se dará quando se tratar de uma expressão formada por preposição + substantivo.

 

Ou seja, se você encontrar uma estrutura como “biscoito de chocolate“, não haverá dúvida de que “de chocolate” é um adjunto adnominal uma vez que “biscoito” é um substantivo concreto, o qual não é escopo do complemento nominal; se esbarrar com “Ele é útil a mim“, saberá que “a mim” só pode ser complemento, uma vez que completa um adjetivo, o qual não é escopo do adjunto adnominal. Se encontrar, ainda, a estrutura “investimentos gigantescos“, identificará facilmente que “gigantescos” é adjunto adnominal, uma vez que se trata de um adjetivo, e o complemento nominal será sempre “preposição + substantivo”…

 

Agora, se você se deparar com “investimentos em saúde” ou com “investimentos do governo”, em que se tem um substantivo abstrato (escopo comum tanto ao adjunto adnominal como ao comlemento nominal) e uma expressão formada por preposição + substantivo (formação também comum a elementos de ambas as funções), como sair dessa?

 

O caminho é simples: perceba que o substantivo abstrato “guarda” em si uma ação, que no caso em  tela é a de “investir”; observe se o substantivo precedido de preposição mantém uma relação ativa ou passiva com essa “ação” que está guardada no substantivo abstrato… Se a relação for ATIVA, você terá um ADJUNTO ADNOMINAL; se essa relação for PASSIVA, teremos um COMPLEMENTO NOMINAL. Vamos tentar aplicar?

 

I – “investimentos em saúde

 

A saúde investe? É ativa em relação ao “investimento”? Não, né? Ela recebe os investimentos, é PASSIVA, portanto temos um COMPLEMENTO NOMINAL!

 

II – “investimentos do governo

 

E agora? O governo investe? Sim! Pelo menos nesse caso hipotético, né?rsrs Brincadeiras (sérias) à parte… O substantivo “governo” é ATIVO em relação ao investimento. Assim sendo, estamos diante de um ADJUNTO ADNOMINAL.

 

Todo mundo que me conhece sabe que, quando eu fiz vestibular – melhor não dizer em que ano foi isso… -, eu errei uma questão discursiva porque troquei: disse que o passivo era adjunto e o ativo era complemento. Para que você não cometa o mesmo erro, lembre-se sempre de que o Ativo é Adjunto Adnominal. Tudo com A, para você não se confundir no dia D nem na hora H…

 

Há outras formas de identificar… O complemento, por ser um termo integrante, parece mais necessário à sentença do que o adjunto, que é um termo acessório. A locução adjetiva que é adjunto é mais facilmente traduzida em uma adjetivo equivalente, o que não ocorre com o complemento.

 

Há, ainda, casos que envolvem substantivos como “tipo”, “questão”, “espécie”, “aspectos”… São substantivos de classificação duvidosa e para os quais você não encontrará um processo verbal que ajude na verficação da “atividade” ou “passividade” do substantivo precedido de preposição. O que fazer? Veja que a expressão que os acompanha será, no mais das vezes, um adjunto adnominal. Quando se diz, por exemplo, “Ele pesquisa uma espécie de rato”, o substantivo “rato” poderia ocupar o espaço sintático do núcleo “espécie” (“Ele pesquisa uma espécie de rato.”), de modo a tornar claro que não se trata de um complemento, o qual é “exigido” pelo termo regente. Ora, se ele existe sem o suposto “regente”, não há relação de complementaridade. Assim, temos em “de rato” um adjunto adnominal, tal como temos em “A questão da educação é urgente” (“A questão da educação é urgente”) ou em “Precisamos observar aspectos da sobrevivência humana” (“Precisamos observar aspectos da sobrevivência humana”).

 

Agora, exercite!!!!

 

 

Coloque (AA) para adjunto adnominal e (CN) para complemento nominal:

 

 

a) (   ) A leitura do padre nos emocionou.

 

b) (   ) Há um tipo de homem que não merece respeito.

 

c) (   ) A chegada ao navio foi morosa.

 

d) (   ) Foi surpreendente o julgamento dos nossos pedidos.

 

e) (   ) A orientação do professor foi fielmente seguida pelo aluno.

 

f) (   ) Joaquim era um homem de consciência.

 

g) (   ) O amor da mãe pelos filhos é algo imensurável!

 

h) (   ) O amor da mãe pelos filhos é algo imensurável!

 

i) (   ) O respeito ao próximo deve ser uma bandeira de todos.

 

j) (   ) Pedidos das crianças são melodias muito sedutoras.

 
[linguaminha more=”Exibir Respostas” less=”Esconder Respostas”]a) (AA); b) (AA); c) (CN); d) (CN); e) (AA); f) (AA); g) (AA); h) (CN); i) (CN); (AA)[/linguaminha]

 

 

E aí? Entendeu?

 

 

Tomara que sim… Se ainda houver dúvidas, assista ao nosso vídeo:


Um beijo grande!

 

 

Prof. Dr. Patrícia Corado

Tags
Adjunto adnominal, Complemento Nominal, Língua Minha
42 Comentários
  • Wittecker Melo
    Postado 21:22h, 21 setembro Responder

    Não entendi o motivo da B ser adjunto adnominal :/

    • Patrícia Corado
      Postado 21:43h, 21 setembro Responder

      Oi, Wittcker! Veja que, em casos que envolvem substantivos como “tipo”, “questão”, “espécie”, “aspectos”, a expressão precedida de preposição será considerada adjunto adnominal sempre que, sem a preposição, puder ocupar o espaço do núcleo. Em “Há um tipo de homem que não merece respeito.”, você poderia retirar o núcleo (tipo) e a preposição (de) e, ainda assim, preservar a lógica da sentença (“Há um homem que não merece respeito). Além disso, você também poderá notar que “de homem” tem um valor adjetivo (tipo de homem = tipo humano), o que coloca a expressão no plano sintático dos adjuntos adnominais. Lembre-se, acerca disso, de que o complemento nominal é uma função substantiva, uma vez que a preposição que o precede é exigida pela regência do nome, e o adjunto adnominal é uma função adjetiva. Assim, uma das estratégias possíveis é tentar substituir a expressão formada por “preposição + substantivo” por um adjetivo equivalente; se isso ocorrer, teremos um adjunto adnominal. Entendeu?
      Obrigada pela sua visita!!! Mande-nos sempre suas perguntas e fique sempre com o Língua Minha!
      Um abraço!
      Patrícia

  • Fabiana Tavares
    Postado 14:35h, 27 dezembro Responder

    Adorei!

  • Jairo Lopes
    Postado 17:28h, 01 abril Responder

    Boa tarde!
    Por que a letra ”F” é adjunto adnominal?

  • Patrícia Corado
    Postado 18:34h, 06 abril Responder

    Oi, Jairo! Porque o referente é o substantivo CONCRETO “homem”.
    ” Uma dica é sempre notar que o adjunto adnominal só trabalha para o substantivo (concreto ou abstrato), enquanto o complemento nominal pode trabalhar para o substantivo abstrato, para o adjetivo e para o advérbio.”
    Entendeu?
    Abraço,
    Patrícia

  • Robson
    Postado 15:23h, 25 abril Responder

    Gostei, principalmente da dica no último parágrafo. Valeu!

  • Paula Euzébio
    Postado 13:47h, 22 junho Responder

    Parabéns professora pela aula! Clara, objetiva, excelente enfim….. Show de bola!!

    • Patrícia Corado
      Postado 20:08h, 08 julho Responder

      Obrigada, Paula!!!! Fico muito feliz com o seu comentário!
      Um abraço!
      Patrícia

  • Cristiana
    Postado 14:23h, 02 novembro Responder

    Professora, voce pode por favor explicar qual seria o complemento de: “relação de amigos” e “amor de amigos”. Não consigo identificar a relação paciente/ agente nessas expressões. Obrigada!

    • Rosely
      Postado 14:15h, 15 outubro Responder

      Acredito que seja a mesma relação. Adjunto Adverbial nos dois…

    • Língua Minha
      Postado 16:56h, 04 novembro Responder

      Cristiana, há adjunto adnominal nos dois casos, uma vez que em ambos o substantivo “amigos” é agente do processo verbal implícito nos substantivos abstratos (relação e amor): são os amigos que se relacionam e são os amigos que amam.
      Entendeu?
      Um abraço,
      Patrícia

  • Mara
    Postado 23:41h, 21 novembro Responder

    Poderia ser o seguinte raciocínio? relação de amigo = relação amigável e amor de amigo – amor amigável, já que o adjunto adnominal tem uma função adjetiva.

  • Thiago Pereira de Souza
    Postado 09:47h, 21 dezembro Responder

    Facilitou muito a minha vida! Sempre me confundia com as classificações, isso quando as encontrava rs. Obrigado por ser a única a me fazer compreender esse tema, professora!

    • Língua Minha
      Postado 20:20h, 30 dezembro Responder

      Oi, Thiago! Fico muito feliz com o seu comentário! Obrigada!
      Um abraço,
      Patrícia

  • FAUSTO DANIEL DE OLIVEIRA CANUTO
    Postado 10:48h, 15 janeiro Responder

    muito obrigado, você faz o português parecer muito fácil. valeu!!!!

    • Língua Minha
      Postado 21:27h, 15 fevereiro Responder

      Fausto, obrigada pelo seu gentil comentário! Ficamos muito felizes!!!
      Um abraço,
      Patrícia

  • Elaine Boone
    Postado 22:31h, 25 julho Responder

    Encontrar esse site foi com achar um tesouro, ele e completo. ja me escrevi no You Tube tbm.
    Grata por tudo. Deus te abençoe professora.

    • Língua Minha
      Postado 21:10h, 17 outubro Responder

      Obrigada pelas suas palavras, Elaine! Fico muito feliz!!!
      Um abraço,
      Patrícia

  • Carol Dantas
    Postado 02:11h, 05 novembro Responder

    Suas dicas e explicações são sensacionais. Parabéns pelo excelente trabalho.

    • Língua Minha
      Postado 15:10h, 14 novembro Responder

      Obrigada, Carol!!!! Fico muito feliz com o seu comentário!
      Um abraço!

  • Juliana
    Postado 00:30h, 27 dezembro Responder

    Olá! Não entendi pq a “h” é CN. Já que “mãe” é um substantivo concreto, não deveria ser AA?

    • Língua Minha
      Postado 14:36h, 23 janeiro Responder

      Juliana, nesse caso, “pelos filhos” não completa “mãe”, mas sim “amor”, que é abstrato.

  • Larissa Pereira de Souza
    Postado 11:40h, 16 fevereiro Responder

    Eu primeiramente conheci seu canal há meses. Hoje pesquisando acerca do assunto, descobri que tens este site. Para mim, este ocorrido é maravilhoso, uma vez que me ajudastes de maneira simples e encantadora a entender e aplicar melhor a ´´língua minha´´, a nossa querida língua portuguesa. Um grande abraço. Meus parabéns!

    • Língua Minha
      Postado 13:06h, 21 fevereiro Responder

      Larissa, obrigada pela sua mensagem tão carinhosa! Fique sempre conosco. Um beijo!

  • JULIENE LISBOA
    Postado 13:33h, 16 fevereiro Responder

    Não entendi a letra G.

    • Língua Minha
      Postado 13:09h, 21 fevereiro Responder

      Oi, Juliene! Em “amor da mãe”, a mãe AMA, portanto é AGENTE em relação ao substantivo abstrato AMOR. Por isso temos aí um ADJUNTO ADNOMINAL.

  • Aline Silva Jardim
    Postado 14:46h, 24 março Responder

    Obrigada pelo conteúdo! Excelente!

  • Ilderlan
    Postado 23:34h, 02 maio Responder

    Professora, pode por favor explicar “viagem de férias”?

    Ex: A viagem de férias foi ótima.

    Obrigado.

    • Língua Minha
      Postado 18:50h, 16 maio Responder

      Trata-se de adjunto adnominal, uma vez que viagem não exige preposição “de”.

  • aguiar
    Postado 11:47h, 10 maio Responder

    n entendi pq a letra c é C.N. chegada é precedido de artigo, não seria uma expressão substantivada?(deverbal). neste caso é um substantivo abstrato. e navio esta praticando a ação de chegar. tudo indica que é um AA. Vc poderia explicar p.f.

    • Língua Minha
      Postado 18:52h, 16 maio Responder

      Na letra “c” não é o navio que chega. Chegam a ele. Portanto é passivo. CN. Caso fosse “chegada do navio”, o navio estaria praticando a ação de chegar. Aí seria AA.

  • Lorena Martins
    Postado 10:18h, 04 agosto Responder

    Adorei o site e a explicação <33

  • Andréa
    Postado 20:39h, 20 junho Responder

    Olá Patrícia!
    Boa noite! Não entendi a letra D, você poderia me explicar essa letra por gentileza.
    Obrigada!!

    • Língua Minha
      Postado 09:59h, 24 março Responder

      Oi!
      Em “Foi surpreendente o julgamento dos nossos pedidos”, os pedidos foram julgados. A estrutura é paciente em relação ao substantivo abstrato “julgamento”. Por isso é Complemento Nominal.

  • Lívia
    Postado 02:15h, 06 março Responder

    Professora, que conteúdo incrível! Muito obrigada por tanto! Eu tive dúvida na letra D. Por que não posso realizar o seguinte raciocínio?
    “Os homens são tipificados”. Logo, sofrem a ação, então “de homens” em “tipo de homens” seria complemento nominal.
    Sei que o racionais está errado, mas não entendo o porquê.

  • Livia
    Postado 02:21h, 06 março Responder

    Professora, que conteúdo incrível! Muito obrigada por tanto! Eu tive dúvida na letra B. Por que não posso realizar o seguinte raciocínio?
    “Os homens são tipificados”. Logo, sofrem a ação, então “de homens” em “tipo de homens” seria complemento nominal.
    Sei que o raciocínio está errado, mas não entendo o porquê.
    Obs.: enviei a mesma mensagem anteriormente, mas havia dois erros.

    • Língua Minha
      Postado 10:02h, 24 março Responder

      Oi, Lívia. A aplicação desse raciocínio não funciona porque “tipo” não é o “ato de tipificar”. Se tivéssemos “Fizemos a tipificação dos homens.”, esse raciocínio se aplicaria, porque “tipificação” é o ato ou resultado da ação de tipificar. Entende?

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