A concordância do verbo SER

 

Quem é meu aluno, presencial ou virtualmente, sabe que eu recomendo sempre a concordância do verbo com o seu sujeito. Acho que quem pratica essa concordância, conhecida como concordância gramatical, não tem problemas na hora de escrever e se livra daquela decoreba de setecentas mil regrinhas de concordância verbal.

 

Sei, é claro, que há, em casos específicos, a possibilidade de concordância atrativa e de concordância ideológica, mas elas não tiram a validade da concordância com o núcleo do sujeito (concordância gramatical).

 

O verbo SER, no entanto, é aquele calinho no sapato, porque ele pode, em alguns casos, concordar com  o termo que ocupa uma outra “casa” sintática, o predicativo do sujeito.

 

Em outras palavras, como qualquer outro verbo da Língua Portuguesa, o verbo SER concorda com o seu sujeito. Até aí tudo bem… A especificidade desse verbo reside no fato de que ele também, em alguns casos, pode concordar com o PREDICATIVO DO SUJEITO.

 

Essa possibilidade, todavia, só ocorrerá quando o PREDICATIVO DO SUJEITO for uma expressão de base substantiva. Você verá, portanto, que o verbo SER fará , nesses casos, a mediação entre dois substantivos (S1 e S2), em que S1 será o sujeito e S2 será o predicativo.

Vamos, então, saber que casos são esses!

 

  • Quando o sujeito (S1) for um pronome interrogativo QUE ou QUEM, a concordância será feira, obrigatoriamente com o predicativo (S2).

 

Ex.:        QUE são essas coisas?

QUE = S1

COISAS = S2

SÃO  concorda com S2 (coisas)

 

QUEM seriam os culpados?

QUEM  = S1

CULPADOS = S2

SERIAM concorda com S2 (culpados)

 

  • Quando sujeito (S1) do verbo SER for um pronome como ISSO, ISTO, AQUILO, TUDO, a  concordância poderá ser realizada com o sujeito ou com o predicativo:

 

Ex.:        TUDO eram dificuldades.

ou

TUDO era dificuldades.

 

ISSO são caprichos.

ou

ISSO é caprichos.

 

 

  • Quando o sujeito (S1) for uma expressão de sentido coletivo, como MAIORIA, RESTANTE, RESTO, a concordância será feita preferencialmente com o predicativo (S2).

 

Ex.:        O RESTO são bobagens.

A MAIORIA são frases soltas.

 

  • Quando um dos substantivos (S1 ou S2) for expresso por um pronome pessoal ou por um substantivo próprio, a concordância se dará obrigatoriamente com o pronome ou com o substantivo próprio, estejam eles no espaço sintático do sujeito (S1) ou no do predicativo (S2).

 

Ex.:        O professor sou EU.

EU sou o professor.

Muitas pessoas é FLÁVIA.

FLÁVIA é muitas pessoas.

 

  • Nas orações impessoais, não há sujeito e a concordância se processa obrigatoriamente com o predicativo.

 

Ex.:        São duas horas.

 

OBS.: Quando o sujeito for constituído por uma expressão numérica considerada em sua totalidade, o verbo ficará no singular, independentemente de ser o predicativo uma expressão de base substantiva:

 

Ex.:        Dois quilos é suficiente.

Oito dias é muito pouco.

 

Agora, vamos exercitar:

 

Assinale a alternativa em que, considerando-se os preceitos  da norma culta, observa-se desvio na concordância:

 

a) Aquilo são puras ofensas.

b) O resto são adereços.

c) A vida é amores.

d) Tudo é dores.

e) Dez reais serão demais?

 

E aí?????

Onde está o erro?

Acertou quem marcou letra E.

Por hoje é só!

Beijos,

Prof.ª Dr.ª Patrícia Corado

Tags
concordância, ser, verbo
10 Comentários
  • Fabiana Rocha Tavares
    Postado 09:44h, 25 outubro Responder

    Que maravilha!!! Parabéns, Patrícia!

  • Fabiana Tavares
    Postado 18:58h, 24 dezembro Responder

    Pati, quando o verbo ser concorda com o predicativo (s2), qual é o tipo de concordância?

  • Fabiana Tavares
    Postado 19:03h, 24 dezembro Responder

    É atrativa?

    • Patrícia Corado
      Postado 14:16h, 26 dezembro Responder

      Fabiana, há duas explicações para isso. 1) Podemos entender que a concordância é gramatical, uma vez que, nesses casos, há equivalência entre S1 e S2.
      2) Também podemos entender, nos casos em que há mais do que uma possibilidade (pode-se concordar tanto com S1 como com S2), que a escolha da concordância seguirá critérios ideológicos de ênfase, ou seja, a concordância será feita com o que se deseja evidenciar, sendo, pois, ideológica.
      De qualquer forma, como eu digo no início do post, o verbo SER é um “calinho no meu pé” porque ele foge à simplificação que eu didaticamente proponho para a compreensão dos mecanismos de concordância da língua Portuguesa…
      Obrigada por sua visita!!!
      Beijos

  • Fabiana Tavares
    Postado 19:07h, 24 dezembro Responder

    Que tal preparar uma série de textos e vídeos sobre concordâncias verbais e nominais? Além de importantíssimas para concursos, são essenciais no cotidiano!!! Fica aí outra dica, prof!!! Sua forma de explicar nos ajuda tanto!

  • Edwiges Fernandes
    Postado 07:41h, 07 maio Responder

    Dicas preciosas!

  • Marcos de Santana
    Postado 11:41h, 07 novembro Responder

    Ótima explicação; depois de tantos professores… luz!! MUITÍSSIMO OBRIGADO!

    • Língua Minha
      Postado 15:11h, 14 novembro Responder

      Obrigada pelo seu comentário, Marcos! Fique sempre conosco!
      Um abraço!

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