FUNÇÕES SINTÁTICAS DO “LHE”

Um aluno enviou a seguinte pergunta: “Professora, o pronome oblíquo ‘lhe’ será sempre objeto indireto?”

 

A resposta é “não”.

 

De fato, o pronome “lhe” desempenha classicamente a função de objeto indireto, principalmente (mas não exclusivamente) se esse objeto é precedido das preposições “A “e “PARA”. Pode-se dizer que, quando for COMPLEMENTO VERBAL, o “lhe” será sempre objeto indireto.

 

Assim, o “lhe” que completa verbos transitivos indiretos e/ou verbos transitivos diretos e indiretos será objeto indireto:

 

Exemplo: Os professores lhe deram apoio.

 

Os professores: sujeito

 

deram: VTDI

 

apoio: OD

 

lhe: OI

 

WP DataTables
 

 

Às vezes, no entanto, você verá o pronome “lhe” junto a verbos que não são transitivos indiretos e/ou transitivos diretos e indiretos. Como ocorre no caso a seguir:

 

Os filhos roubaram-lhe a identidade.

 

Observe que, nesse caso, “roubaram” é VTD e o elemento “lhe” tem um valor “possessivo”, equivalente a “Os filhos roubaram a identidade dele(a)”. Quando o “lhe” apresenta essa semântica associada à ideia de posse, é considerado adjunto adnominal.

 

Assim, no exemplo acima, teremos:

 

Os filhos: sujeito

 

roubaram: VTD

 

a identidade: OD

 

lhe: adjunto adnominal

 

Há outras situações em que o “lhe” completa o sentido de nomes, normalmente adjetivos, sendo equivalente a “a você”, “a ele(a)”. Veja:

 

Ninguém lhe será contrário.

 

Observe que o “lhe”, nesse caso”, completa o sentido do adjetivo “contrário” (Ninguém será contrário a você / a ele), sendo, portanto, um complemento nominal.

 

Assim, considerando o exemplo acima, temos:

 

Ninguém: sujeito

 

será: VL

 

contrário: predicativo do sujeito

 

lhe: complemento nominal

 

Observação: O “lhe” complemento nominal ocorrerá em orações com verbo de ligação e completará nomes adjetivos.

 

Há, ainda, o “lhe” que funcionará como sujeito de infinitivo. Isso ocorrerá nas estruturas com verbos causativos e/ou sensitivos acompanhados de infinitivo (LINK DO ARTIGO). Mas preste atenção: o “lhe” só aparecerá nessa função quando o infinitivo vier acompanhado de um objeto direto! Assim:

 

Deixei-lhe levar as roupas.

 

Veja que “lhe levar as roupas” é oração objetiva direta de “Deixei” e o “lhe” é sujeito do infinitivo “levar”. Isso só é possível porque, nesse caso, o infinitivo é VTD acompanhado do seu OD (as roupas).

 

Para entender melhor as construções com verbos causativos e/ou sensitivos seguidos de infinitivo, assista ao nosso vídeo:

 

Agora, assista ao vídeo a seguir, no qual tratamos das funções sintáticas do pronome “lhe”:

 


Por hoje, é só!

Um abraço!

Prof.ª Dr.ª Patrícia Corado

Tags
FUNÇÕES SINTÁTICAS, LHE, OBJETO INDIRETO, Pronome, SUJEITO
6 Comentários
  • Rogerio Carneiro Campello
    Postado 14:27h, 02 julho Responder

    Ótima explicação, professora. Só duas dúvidas.
    “Os filhos roubaram a identidade dele”. Aqui o verbo não é transitivo direto E indireto? Quem rouba, rouba alguma coisa (a identidade) de alguém (dele).

    Mas o interessante é que a minha maior dúvida surgiu, não do assunto deste artigo, mas disso que você escreveu no esqueminha: “ocorre quando se têm causativos ou sensitivos mais infinitivo…”. Professora, eu escreveria esse “têm” no singular, a vida inteira, em qualquer caso semelhante. Substituiria sempre por “alguém”: quando alguém tem causativos etc. Mas “causativos ou sensitivos etc.” é o sujeito da frase? Esse “se”, no caso, não indetermina o sujeito? Explique-me, por favor, para que eu corrija esse meu erro da vida inteira.

  • Jucimar Rodrigues
    Postado 03:40h, 04 julho Responder

    Rogério, sou apenas um estudante, mas enquanto a profa. não responde, tentarei te ajudar.
    Acho que sua primeira dúvida é até mais complexa, porque trata-se da regência de verbos e estes costumam ter diversas variações.
    No entanto, o verbo roubar na maioria das vezes é VTD (quem rouba, rouba alguma coisa ou alguém).
    Exs.: Roubou o relógio. Roubou o turista. Roubaram a casa. Roubaram o prefeito.
    Todas as orações acima são completas (com VTD). Combinando-as, podemos ter:
    Roubou o relógio do turista. Roubaram a casa do prefeito.
    As expressões “do turista” e do “do prefeito, não são OI, mas adjuntos adnominais (temos possuidor e possuído).
    As frases também poderiam ser escritas assim:
    Roubou o relógio dela. Roubaram a casa dele. Roubou-lhe o relógio. Roubaram-lhe a casa.
    Os termos “dele”, “dela” e “lhe” permanecem sendo sintaticamente adjuntos adnominais e morfologicamente pronomes possessivos.
    Já em outras frases, o verbo roubar, na minha opinião, parece possuir outras regências.
    Ex.: Os ladrões roubavam no semáforo (verbo intransitivo com adjunto adverbial de lugar).
    No caso acima, pode ser também que houve a elipse do objeto direto? Tipo: Os ladrões roubavam os carros no semáforo. Não tenho certeza.
    Outros exemplos: O vendedor roubava na balança (verbo intransitivo com adjunto adverbial de modo?).
    Nem todos os negociantes roubam (verbo intransitivo).
    Os sócios da empresa roubam-se mutuamente (verbo pronominal).
    Por fim, o mais próximo que encontrei de regência do verbo roubar como VTDI são:
    Roubaram os turistas de todos os seus pertences.
    Roubaram a todos o sossego e a alegria.
    Mas, nestas frases, não seria mais correto escrevê-las da forma abaixo?
    Roubaram todos os pertences dos turistas.
    Roubaram o sossego e a alegria de todos.
    Desse jeito, continuaria sendo adjuntos adnominais e não objetos indiretos.
    Aguardemos as respostas da sapiente mestra ou demais colaboradores.
    Quanto a sua outra dúvida, escreverei no próximo comentário…

    • Jucimar Rodrigues
      Postado 18:40h, 04 julho Responder

      Correção. Na frase: Os sócios da empresa roubam-se mutuamente. O verbo é intransitvo, estando na voz passiva sintética reflexiva.

      • Jucimar Rodrigues
        Postado 19:12h, 04 julho Responder

        MINTO. O verbo é pronominal mesmo. Estando na voz passiva sintética recíproca.
        Agora sim, kkkkk

  • Jucimar Rodrigues
    Postado 04:40h, 04 julho Responder

    Dúvidas: na frase a seguir, qual o sujeito da frase e qual a função do “se”?
    “Sujeito de infinitivo ocorre quando se têm causativos ou sensitivos mais infinitivo com objeto direto explícito.”
    Observa-se que no período composto acima encontramos dois verbos: ocorrer e ter. Consequentemente duas orações.
    A oração principal é: Sujeito de infinitivo ocorre…
    Tendo por sujeito do verbo ocorrer: sujeito de infinitivo.
    A oração subordinada adverbial temporal é: …quando se têm causativos ou sensitivos mais infinitivo com objeto direto explícito.
    Tendo por sujeito passivo composto do verbo ter: causativos ou sensitivos mais infinitivo com objeto direto explícito (núcleos do sujeito: causativos e sensitivos).
    A oração subordinada está na voz passiva sintética porque o verbo ter é transitivo direto acompanhado do pronome apassivador “se”.
    Detalhe, o pronome está antes do verbo porque ele foi atraído pela conjunção subordinativa “quando”.
    Nessa situação, o objeto direto vira sujeito paciente e o verbo “ter” terá que concordar com ele.
    Outro exemplo: Vendem-se casas (VTD + se = voz passiva sintética). Sujeito paciente: casas.
    O “se” só poderia ser índice de indeterminação do sujeito se o verbo fosse de ligação, intransitivo ou transitivo indireto.
    Para mais detalhes da função sintática do “se”, vejo no outro artigo da professora Patrícia.
    https://linguaminha.com.br/artigos/pronome-se-no-esquema-para-voce/

  • Romeu Agostinho
    Postado 09:58h, 08 agosto Responder

    QUE AULA EXCELENTE!!!!PARABÉNS , MESTRA!

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